02 junho 2010

O TEMPO "CULTURA SAMBA"



O homem nasceu nu.
Não se sabe ao certo a partir de quando ele começou a se vestir, aliás, a se cobrir com a pele dos animais. Terá sido por proteção? Por misticismo? Isto nunca saberemos, mas, a partir dali, estava plantada a semente da vaidade no ser humano e a sua vestimenta vai passar, durante muitos séculos, a determinar a sua condição social.
E a arte já estava presente ali, pois o homem passa a se expressar através de pinturas e desenhos nas cavernas. O conceito ainda não estava formado, mas era um embrião.
Quando falamos em moda na pré-história a primeira imagem que nos vem à mente são os Flintstones, que nos leva a fantasiar que naquela época tudo era “fashion”, divertido. Mas das peles costuradas com tripas de animais por agulhas de marfim até a invenção do tear, vão-se muitos milhares de anos.
Na Antiguidade, teremos o surgimento de grandes civilizações, que se caracterizavam principalmente pela religiosidade, a distinção social vai ficar muito acentuada neste período, pois quanto mais tecido, maior o poder. Neste período os ornamentos e as jóias vão começar a ganhar destaque.
Nem sempre os homens usavam calças e as mulheres saias, isso é coisa moderna. Algumas vezes já foi o contrário, pois de um quadrado de pano, eram feitos saias, saiotes, túnicas que eram amarradas, costuradas ou drapeadas, que em alguns momentos nos remetem à arquitetura lembrando as colunas dos templos.
E a roupa escurece, ganha tons sóbrios, a arte também. A religiosidade aflora. A arte era inspirada pela fé e a roupa segue o mesmo caminho. A silhueta não era o mais importante, e sim a quantidade de tecido que a cobria.
A intenção era tocar a Deus, chegar mais perto do céu, e assim a silhueta foi se alongando, lembrando as torres das catedrais. Os vitrais góticos vão influenciar em cores a indumentária, mas sempre com ares sombrios.
Este período marca uma descoberta que vai acompanhar o homem até nossos dias e vai exercer um papel fundamental na sua vaidade: o espelho.
Narciso mandou lembranças!
No renascer do homem, nasce a moda
Renasce o homem, surge a burguesia, o brocado, o veludo, e com eles o alfaiate. Os tempos eram outros, e a roupa mudou. A busca do ideal de perfeição, representada nas artes, também se faz presente nas roupas.
O homem voltou a olhar para si.
O mundo começou a se movimentar, e o homem vai começar a movimentar também a sua maneira de vestir, e essas mudanças se tornarão cada vez mais freqüentes.
A ciência e a razão são mais fortes que a emoção, e com isso surgem as golas, que vão se tornar cada vez maiores, para valorizar a mente, em sobreposição ao corpo, e aos mais pobres também.
Em contraposição a este ideal, vemos surgir mais tarde, um novo movimento que mostra certa tendência ao bizarro, ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional. O Rei francês Luiz XIV vai marcar este período como o grande responsável pelas extravagâncias da época, que serão assimiladas por toda a Europa.
As roupas masculinas se sobrepõem às femininas, ganhando ares de fantasia, com as silhuetas mais amplas.
Perucas, rendas, fitas, salto alto, plumas… E as mulheres ficam para trás.
E as artes seguem este mesmo caminho barroco, caracterizado pela monumentalidade das dimensões, opulência das formas e excesso de ornamentação.
O homem, aos poucos, vai se tornando mais romantico, sem deixar de lado os exageros. Tudo é mais leve, foi um período de liberdade de movimentos, da sensibilidade e do espírito.
As pessoas pareciam bonecos de porcelana, com perucas e cabelos empoados, lembrando verdadeiros bibelôs.
Os homens vão ficando mais esbeltos no vestir deixando de lado a exuberância e entregaram-na as mulheres, que trouxeram para si o direito as transformações, com anáguas imensas e cinturas finíssimas.
O homem do rococó é um cortesão, amante da boa vida e da natureza.
Com o período neo clássico, vão surgir os primeiros figurinos de moda, e a influência grega vai determinar não somente a arte como a moda. A silhueta se afina e se alonga, desaparecem as caudas, lembrando novamente colunas, e o homem se simplifica cada vez mais.
Um novo tempo
Vira o século, novos rumos, novos ares, novas artes.
Uma arte nova vai dar à moda uma nova linguagem. A mulher fica mais sinuosa, as linhas são mais leves, chapéus, laços e flores. O mundo fica mais rápido e isto vai influenciar o vestir. As mudanças são mais rápidas, assim como os movimentos dos artistas.
Começam a surgir os primeiros estilistas e a cada dia surgem mais e melhores.
O mundo avança, novos movimentos vêm em contraponto a esta nova arte, mais moderna, mais geométrica.
A moda já tomou conta do mundo, ele se torna cada vez menor e mais rápido. E ela vai se tornando cada vez mais efêmera.
A cada dia, novos traços, novos modelos, novas coleções e o homem quer sempre mais, pois moda é tudo, menos tédio.
O que ficará de herança para a história neste século? É difícil saber, mas temos certeza que alguns momentos se eternizarão: a invenção da mini-saia, do jeans e da camiseta. Isto ficará para a história, juntamente com um personagem desse tempo que jamais será esquecido: Mademoiselle Coco Chanel. Ela deixou de criar moda para criar estilo.
Antropofagia
E o Brasil?
Como num movimento antropofágico, nós absorvemos todas essas influências e hoje fazemos uma moda com a cara do Brasil, atraindo os olhares do mundo para a nossa arte. Arte sim, pois fazer moda é fazer arte, é contar História, observando e utilizando as formas que também estão na arquitetura, na escultura, na pintura, na musica, na literatura e, sobretudo, no véu cultural que já cobriu ou irá cobrir nossa sociedade.

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